Hoje em dia, muito já se fala sobre prática do finning, mas poucos sabem quando e porque isso começou e como evoluiu a ponto de ameaçar a sobrevivência de dezenas de espécies de tubarões pelo planeta, e para combater essa prática, é essencial conhecê-la.
A ORIGEM DO CONSUMO DE NADADEIRAS DE TUBARÃO
Acredita-se que, durante a Dinastia Sung, um pequeno grupo da elite chinesa começou a consumir uma espécie de macarrão gelatinoso feito com a cartilagem das nadadeiras de tubarões, esse prato ficou conhecido como "sopa de barbatana de tubarão", isso se manteve isolado até a Dinastia Ming, quando um almirante chinês, na volta de uma viagem à África trouxe centenas de quilos de nadadeiras de tubarão, que os africanos descartavam em favor da carne. Então, a Sopa de Barbatana de Tubarão ganhou popularidade e tornou-se um prato muito oferecido em banquetes formais da elite dessa época.
Quando o partido comunista chinês assumiu o poder, em 1949, com Mao Tsé-Tung, essa sopa tornou-se politicamente incorreta durante toda a revolução cultural, isso fez com que o prato ficasse esquecido, até que foi apropriada à sopa um valor afrodisíaco.
Foi em 1980, que aumentou significativamente o consumo dessa sopa, quando uma nova classe média e alta surgiu na China, essa nova elite passou a buscar novos símbolos de riqueza, tais como compra de peças de arte e também o consumo dessa sopa, tornando-se um prato refinado. Com o crescimento econômico chinês, esse prato passou a ser obrigatório nas grandes recepções e banquetes e na China.
Em alguns países, acredita-se que ao fazer a sopa com a barbatana do tubarão, é possível até curar doenças.
O FINNING
A pesca de tubarão, praticada a milênios, sempre foi uma atividade comum e as nadadeiras eram apenas mais um dos itens a serem aproveitados e comercializados. Um cação de porte médio fornece cerca de 5% a 8% de nadadeiras, 35% de filé, 13% de fígado (rico em óleos, contendo vitaminas A e D), 9% de pele (utilizada na confecção de artigos de couro) e 35% de resíduos (usados principalmente na confecção de farinha de peixe pra ração de cães e gatos).
A partir de 1990, houve uma grande demanda, no comercio mundial, das nadadeiras de tubarão, então elas passam a ser o principal objetivo nesse tipo de pescas. E daí começou o chamado finning, a pesca ilegal para a obtenção EXCLUSIVA das nadadeiras.
Muitas espécies cujas nadadeiras são muito valorizadas, não tem a carne valorizada e ocupam espaço para a armazenagem. 1Kg de nadadeira (que pode ser seca no sol) gera US$ 50,00 e o mesmo quilo de carne de tubarão (que deve ser processada e refrigerada adequadamente) gera US$ 1,50. Assim fica fácil entender porque o pescador, ao capturar o turbarão prefere ficar apenas com as nadadeiras e jogar a carcaça de volta ao mar. Esses animais geralmente devolvidos ao mar vivos, e sem as suas nadadeiras são incapazes de nadar, afundando e morrendo.
Não se tem um número preciso da quantidade de tubarões-azuis capturados em nossas águas, mas nas costas do Havaí, cerca de 50 mil animais por ano, são capturados exclusivamente por suas nadadeiras.
Hoje, cerca de 120 países, incluindo o Brasil, matam 70 milhões de tubarões por ano por todos os oceanos. Espanha, Portugal, Reino Unido e França estão entre as nações responsáveis por 80% da captura global de tubarões, suprindo parte da demanda de Hong Kong. Já estima-se cerca de 800mil chineses entre classe média e alta, que são consumidos da sopa de barbatana de tubarão, e esse ritmo cresce cerca de 10% ao ano.
O IMPACTO DO FINNING
A pesca para obtenção exclusiva das barbatanas de tubarão, é uma ação predatória constante e silenciosa. É insustentável e está ameaçando seriamente a sobrevivência das populações de tubarões - 45% das espécies de tubarões em nosso litoral já estão ameaçados de extinção. Se nenhuma ação for tomada, dezenas de espécies (cujas populações já declinaram cerca de 90% nos últimos anos), serão extintas nas próximas décadas. OS oceano, a pesar de grandiosos, já não estão mais suportando os hábitos de consumo dos seres humanos (na verdade o mundo inteiro já está com seus recursos se esgotando), estamos exaurindo as fontes e levando os mares ao seu limite.
Os tubarões tem um valor muito importante para a natureza, pois exercem um papel crucial na manutenção da saúde e equilíbrio da vida nos mares. Sem eles o desequilíbrio nos ecossistemas marinhos serão catastróficos.
ALTERNATIVAS ECONÔMICAS
Um recente estudo australiano demonstrou que os tubarões do arquipélago de Palau (em que o shark finning já foi proibido) trazem, por ano, US$ 18 milhões para o turismo e mergulho com tubarões. Considerando o aspecto puramente financeiro, um tubarão mantido vido pode valer milhares de vezes mais do que um tubarão morto. Portanto é necessário rever o modo que os "recursos" naturais estão sendo aproveitados.
O FINNING NO BRASIL
De acordo com estudo feito pela Universidade New Southeastern, na Flórida (EUA), 21% das nadadeiras encontradas à venda em Hong Kong, vinham do Oceano Atlântico Ocidental (área que inclui o Brasil), isto é, há pesca ilegal e trafico de barbatanas aqui no Brasil.
Apesar do Brasil já possuir lei sobre o finning, o controle e fiscalização é muito difícil, principalmente considerando a migração dos animais, entre fronteiras internacionais.
LEGISLAÇÃO E INICIATIVAS CONTRA O FINNING
No Brasil, a portaria do IBAMA nº 121/1998, proíbe a rejeição ao mar, das carcaças de tubarões, dos quais tenham sido removidas as nadadeiras e somente permite o transporte a bordo ou o desembarque de nadadeiras em proporção equivalente ao peso das carcaças retidas ou desembarcadas. Para efeito de comprovação dessa proporcionalidade, o peso total das nadadeiras não pode exceder 5% do peso total das carcaças. Esta lei é boa, mas de difícil controle e fiscalização.
Nos EUA, o congresso americano aprovou em dezembro de 2010 uma nova legislação exigindo que todos os tubarões capturados legalmente em águas norte-americanas devem ser desembarcados com suas nadadeiras integras e no corpo do animal.
No Hawaii, no início de 2010, no estado do Hawaii, com o objetivo de banir essa pratica, aprovou uma lei proibindo a posse, venda, comércio e distribuição de nadadeiras de tubarão. Essa lei foi adotada também na Califórnia, no início de 2011.Na União Européia, no início de 2011, o parlamento europeu endossou uma resolução para banir o finning em tubarões, propondo a proibição da remoção das nadadeiras dos tubarões a bordo das embarcações europeias.
Em Washington, em 2011, foi assinada uma lei que proíbe o comércio de barbatanas de tubarão.
Em Bahamas, também em 2011, o governo aprovou uma lei banindo o finning de tubarões de suas águas e proibindo o comércio e exportação de produtos provenientes de tubarões. Honduras, Maldivas e Palau, tem uma legislação semelhante.
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